da sátira dura e higiénica à indignação orientada
Das duas uma. Ou se proíbe a sátira, o que sucedeu em Portugal de 1768 a 1794, com fracos resultados. Ou, caso contrário, a sátira vale para todos sem excepção. Falo de sátira mesmo, não de piadinhas simpáticas. Sátira dura, às vezes injusta, sempre higiénica. Não precisa de que toda a gente goste dela – o que é, aliás, a negação do humor. Não me venham com os Monty Python e A Vida de Brian, de que todos parecem tão desportivamente gostar hoje em dia. A Vida de Brian é excelente mas é de 1979. Trazer o filme à discussão é como dizer às mulheres para não usarem calças porque isso já houve uma que as vestiu nos anos 20. Precisa é de ser uma sátira sempre praticada, porque uma liberdade que não se usa é uma liberdade que se perde. E porque se levarmos este tabu a sério viramos um Irão católico – e chato.
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Ver: documentos, trocas e baldrocas
A questão religiosa
estou indignado porque tu não te indignas
9 comments on “da sátira dura e higiénica à indignação orientada”
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Eu sei que nos entendemos nestas pequenas coisas em que também tenho uma boa costela liberal.
O que eu chamo uniformizar é a longa marcha de intervenção estatal nos costumes. Não é só cá, claro, é geral. Mas cá tem um cunho mais forte porque não existe sociedade civil com força e muito menos forças políticas que escapem ao bloco central.
Por isso é que digo que a uniformização é doutrinária mas passa pela lei. Quando chamo jacobina estou também a falar deste aspecto da casuística.
Tens um exemplo absoluto da terraplanagem a uma só voz na educação. Não temos autonomia. Vem tudo de cima.
A questão religiosa nem a coloco assim. Coloco-a naquilo que tu estavas a dizer que era uma igreja que não devia sair para a rua com os seus símbolos.
Isso e´matar toda a tradição folclórica do povo. Toda. E é óbvio que não pensam nisto porque até são capazes de defender exclusões à lei por causa das touradas de Barrancos, mas achar que se deve uniformizar e ter uma única lei para tudo, se entrar questão religiosa, por exemplo.
A questão de Fátima ultrapassa em absoluto a dimensão do país. Falar de Fátima sem ter a noção do peso que tem no mundo católico extra-fronteiras é disparate. O resto da estética nem vem ao caso.
Viria ao caso a celebração de missas de acordo com o velho rito. E aí sim, são os “padres progressistas” que não querem.
Quanto ao exemplo da Holanda tens mais ou menos razão.Eu também tenho a noção do que disse. Não é propriamente multiculturalismo porque está confinado à tradição da Bible Belt.
No no nosso caso nem temos estas especificidades. Mas eu defendo o mínimo de lei em matéria de vivência popular e de tradições.
Claro que tem de existir uma autoridade e essa deve ser a autoridade natural- sempre assim foi- do chefe da aldeia, aos anciãos, ao padre. Quando se matam estas forças é que entra a lei. A terraplanagem.
Por isso defendo a resistência à doutrina legal. E estou-me nas tintas para injustiças. Antes injustiças livres que igualdades forçadas.
«Porque, aquilo que não suporto é a uniformização.»
Nem eu.
«E socializações e terraplanagens por decreto são um dos meus ódios de estimação.»
Meus também! Afinal vamos a ver e estamos do mesmo lado.
Também não gosto de confusões. A forma como as coisas têm corrido só provam que a única intenção é abanar e fugir. Porque, na prática, a igualdade só foi reposta de forma pacífica, aos poucos, tanto quanto seria aceitável face a uma evolução natural de uma suposta identidade cultural – de forma bastante “liberal”. Digo suposta porque isso tudo me parece menos do que homogéneo e objectivo. De qualquer forma, estes ameaços de reposição da Constituição tipo relâmpago nunca dão em nada.
Agora, uniformizar? Uniformizar é descrever todo e qualquer indivíduo debaixo de uma característica cultural que as pessoas não reconhecem muitas vezes e debaixo de um passado histórico que elas não escolheram.
As pessoas são tão boas a avaliar identidades culturais que muitos católicos até já se azedaram com a “iconografia ortodoxa” do novo templo em Fátima… E eu a achar que a qualidade artística do novo receptáculo de dádivas seria o único factor a reunir consenso…
«Porque admitem a liberdade de existência de comunidades com regras autónomas.»
Isso é multiculturalismo.
E eu nem me entendo muito com católicos medidores de fé. Nem com cenas de grupos de JOCs e coisas no género. Estou sempre com um bom pé de fora da Igreja. O que é do âmbito da fé, é comigo e a mais ninguém diz respeito.
Mas nestas porcarias em que pressinto a pata jacobina da lei, a terraplanar e a apagar memórias fico mais brava que todos os beatos juntos.
Eles até dizem que eu tenho uma noção de Igreja como “mijadela de demarcação territorial e que ao pecado digo nada”. É exagero, mas é verdade que a demarcação histórica e as boas tradições livres de um povo estão sempre à frente do grau de reza de cada um.
Porque, aquilo que não suporto é a uniformização. A mania de pegar na lei e apagar o que tem vida própria. Até defendo um país com tradições diferentes. Ao ponto de considerar mais livre exemplos como os da Holanda onde tanto pode existir o folclore do casamento gay como locais onde nem o aborto é permitido. Porque admitem a liberdade de existência de comunidades com regras autónomas.
Isto é o que há de mais oposto à “socialização” uniformizadora e jacobina. E socializações e terraplanagens por decreto são um dos meus ódios de estimação.
Perdeu-se a primeira resposta. Esra isto:
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Ó sir Francis. Quais cruzes? que nada. Nada desta treta tem a ver com essa fabricação disparatada de meia dúzia de cruzes nas escolas.
Isso já era. Agora a novela é outra.É a dos capelães nos hospitais. Estão aí os textos.
E eu acho que sei porque é que tiveram o descaramento de fazer desaparecer um dos acordos e agora virem com outro.
Assim como acho que sei porque motivo o Tavares mandou aquela boca cÃnica e sonsa do “então esperem por 2009”.
Isto é mais grave. Enquanto não se tirar esta escória do poder, isto só pode ir de mal a pior. Por todas as razõees.
Que me lembre nunca tive uma certeza assim. E nem tenho partido político. Mas este totalitarismo que acha que tem tudo na mão e há-de querer terraplanar tudo por onde passa,é coisa que precisa de quem lhes faça frente.
Esta treta não aparece assim desgarrada. Não foi apenas por terem acordado para o lado errado.
Isto é puro jacobinismo mas agora com folclore politicamente correcto do multiculturalismo.
O que estes anormais não suportam é apenas isto: as raízes e identidade histórica de um povo.
Ponto final. Se à mistura também são loucos ateus, então têm o multiculturalismo de todas as seitas e new-ages e minorias religiosas a que se agarrarem apenas para esbaterem a herança histórica católica.
É bom que se entenda. Estes jacobinos só têm trauma com a Igreja Católica.
Um misto de trauma de “anti-facismo contemporâneo”.
E adoram, idolatram, metem-se a quatro por uma boa lei. O que eles gostam de decretos, de judicialismo, de paleio consitucional. De direito positivo- de tudo o que possa matar o que é natural, o que tem ritmos e tradições próprias- o que nunca deve ser uniformizado- a vida das comunidades, o povo.
O clero é pago e sempre foi pago, como é pago em qualquer outro país onde nem haja estado laico como o nosso, ou onde exista. Porue todos os países têm uma tradição religosa dominante. Ora vão lá para a Tunísia ou para Marrocos dizer que um cristão tem direitos iguais a um islâmico e esperem pela resposta. Vão lá para Inglaterra, ou para a Grécia, ou para qualquer outra parte do mundo.
Ou agora isto “virou” América?
Ɉ pago porque somos um povo católico e porque existe uma Concordata.
Ponto final.
E não me venham com merdas que agora vale tudo em pé de igualdade e vai haver concordata com macumba, magia chinesa, evangélicos de garagem, budistas da avenida de Roma, ou simplesmente ateus militantes.
E maçons, claro, já me esquecia, e concordata com eles próprios.
Fónix. Isto entra pelos olhos dentro. O Tavatres precisa sempre de desconversar para fazer passar uma treta. Mas ele nem conta. Conta o governo. E o governo é assim, como também ficou ilustrado nos links. Tem dias- uns dias benze-se na escola pública, noutros mete kipa na tola e vai em cerimónia de Estado por causa de umas cagadelas num cemitério.
Esta idioteira vale o que vale. Para mim tem o retrato perfeito naquela moça da tv que também se mascarou de islâmica para entrevistar o da embaixada do Irão.
Mascaram-se do que for preciso. Se for preciso cortar e arrecadar, mascaram-se de ateus. É o que convém.
Mas isto é o Poder. Os escribas não. Os escribas mascaram-se de quem não acredita em nada sobrenatural. Mas depois têm espasmos só de olhar para um crucifixo.
Este ateísmo é apenas a linha directa dos velhos cagots. Andam assim a rabiar por aí porque ficaram orfãos do demo. Ao menos os maçons ainda andam ao beija-cu do bode, e enquanto beijam os cus não chateiam.
A bandeira da República tem símbolos marianos que até eram usados pela Monarquia. Jacobinismo era querer mudar a bandeira, por exemplo. Ou mudar as armas de Évora. Não é nada disso que está em causa.
As cruzes de pau nas escolas foram postas em 1937, salvo erro. Não eram tradição nas escolas públicas. Nem a Educação Religiosa e Moral. Nem as celebrações eucarísticas em escolas públicas em horário lectivo. Nem a Concordata.
Pessoalmente, o acesso a apoio espiritual é “sagrado”. Dispenso-o, como é fácil de compreender, mas todos devem ter direito a morrer da forma que acharem melhor.
Mas isso é uma coisa. Outra é pagar ao clero para prestar esse serviço a alguns. Quer estejam a prestar esse serviço quer não. São funcionários públicos só que privados…
O “jacobinismo” de hoje seria um centelha de turíbulo apagado, um fogo de artifício de arraial, não fosse as alergias que provoca e que lhe dão proporções de piromania. E uma real razão de ser.
Tens aqui o tal post referente aos “direitos de saída” e a entrevista à Durán que reconhece o papel da igreja católica nesse apoio aos doentes.
Foi à custa disto que a jacobinada mais feroz até quis fazer passar a ideia que a Igreja Católica é inconstitucional.
O debate está lá e está aqui, no Cocanha, em post de resposta. Isto agora é a mesma treta. A diferença são as manhas e o desconversar. Por isso recordei o que se dizia nos tempos barnabeicos.
Estás sem internet? fazez tu bem.
Pensei que dava para ler o outro. É o artigo do Público (segue o link da Loja que tens lá o comentário)
Vamos lá a ver. O que aqui coloquei foi uma mera brincadeira para que se perceba que o artiguinho do Público, cheio de manhas, é uma mentira. É uma mentira porque já se dizia isto no Barnabé.
Quanto à questão é simples. Símbolos públicos até nas notas, nos pelourinhos, nas igrejas, nas cruzes históricas, em todo o lado porque, apesar de já termos tido fortes cargas de apagamento da história, nunca chegamos ao ponto de uma sociedade comunista. Nunca se apagou nem o legado histórico nem a tradição popular- em romarias, em procissões, em festas semi-religiosas e semi-pagãs, nos seus cultos e até no simplas questão de desejar um padre à cabeceira, à hora da morte. Como o deseja no baptizado, no casamento, etc. etc.
Não existe um único país onde assim não aconteça. Vais para a Grécia e tens igreja ortodoxa paga pelo Estado, vais para Inglaterra e tens a raínha como chefe da igreja anglicana. E assim por diante.
Isto é o que é normal porque não existe vazio. Nem nunca existiu. Quando se quis retirar a tradição religiosa foi para lá colocar a jacobina, com os seus heróis, com a sua doutrina.
Actualmente vive-se de novo essa perseguição jacobina. Por várias razões, uma delas, a principal, porque têm o Poder. E eles podem usar uma igreja para fazerem cerimoniais maçónicos, como já o fizeram, mas acham que a Igreja Católica é que não pode ter a ligação viva à comunidade.
Quanto, esta questão do acompanhamento na morte é tão verdadeira que até são os próprios médicos ateus a reconhecê-la. Lmebro-me de uma espanhola (Na Natureza do Mal foi colocado o artigo e houve debate por aqui) ter reconhecido o facto, quando defendia os “direitos de saída”. Por isso mesmo é que o combate dela é igual ao deste jacobino furioso. Cortar na Igreja católica para a substituir por médicos a fazerem essa funcção. Como ela dizia, se não se fizer isso, perdem-se causas. Tudo isto é sempre visto como luta tribal por estes ateus militantes.
A questão do Sócrates e dos judeus teve piada. Precisamente por mostrar que o laicismo tem dias.
Se é por causa de umas cagadelas em cemitério de “minoria” (sem a classificação não se justifica o tal crime de ódio) na boa. Fica bem. Não há problema de “laicismo”.
Se é numa escola ou noutro organismo que alguém se benze, ai Jesus que vem aí a Inquisição e é um atentado à Constituição.
O ridículo destas posições ficou aí espelhado.
Chega-se ao ponto de considerar maligno o simples facto de se olhar para uma igreja, uma cruz, uma benzedura. O Tavares disse-o. Não permitia que alguém rezasse pela alma dele. Porque isso era uma devassa. Ele foge daquilo em que diz não acreditar, como o demo foge da cruz.
A Palmira diz o mesmo. Também acredita no auto-exorcismo só de olhar para um crucifixo. Também acredita na magia e deu exemplos da urticária que as filhas apanharam só por se lhes falar em baptismo.
Claro que estas coisas são do âmbito da loucura. Se o não fossem também não perdia tempo. Nunca perdi tempo com laicismo. Até acho muito bem.
Só que esta treta não é lacismo. Esta boa treta em que se empenham, fazendo uso de todos os tachos que sacam, é proselitismo jacobino malsão.
Daí o ter postado os 2 textos para que se compare.
Para falar com toda a verdade, até penso que nem tu eras capaz de ter trauma religioso a este ponto para dedicares 90% do que escreves ou fazes, a perseguir a Igreja Católica.
Mas estes fazem-no. E o Vital é outro igual.
Beijocas Sir Francis. Estava com saudades. E olha que bem me lembrei de ti por outros motivos.
Há fenómenos estranhos. Os mais religiosos nem se interessam pela tradição religosa do país. E eu também tenho enorme dificuldade em lidar com bandos, sejam eles quais forem.
Isto aqui é apenas combate gratuito e solitário. Em grupo, sou eu que ainda consigo fugir mais que o Tavares da cruz.
Não conheço nenhum jovem ateu português que sofra por olhar para ícones. A questão não é essa.
O que é realmente curioso é que sugerir tirar esses símbolos, pelos vistos, faz muito pior a outras! Com uma torcidela curiosa: os ídolos são uma inocuidade, desde que não se tirem da parede. São inofensivos, desde que fiquem lá quietinhos. A Igreja está em plena forma e não tem dores – desde que não se mexa. Se lhe pedem para se levantar de um banco onde nunca se devia ter sentado, lamuria-se, é um ai Jesus. Delirium tremens ou hipocondríase?
Se o próprio só lá ficou uma tarde…
Por isso pergunto eu, à Igreja: qual polémica? A Igreja bate-se pela manutenção dos símbolos em locais laicos. Está assim tão desesperada? Por haver intenções é que há uma questão.
Aos crentes: se levar ateus para o púlpito é sacrilégio, levar os ícones para a praça pública desta forma não o é também? Isto era ou não previsível? Se a Igreja quer sobreviver tem de ser mais laica do que o Estado. E devia admoestar o Sócrates por se benzer em público porque todos se riem dele e do piscar de olhos à Igreja. Ficam todos mal vistos com os avanços amorosos do chefe do executivo e um simples “não obrigada” garantia a castidade da visada. Isto é, se é que se preocupam com a pureza de princípios.
Não consigo é ver o B que é só para assinantes.
PS: Peço desculpa pelo perfume. Mas cá cá não comentava há algum tempo porque estou sem internet e assim compensa…