Um barbeiro para a ASAE

A propósito deste voto do Dragão

Em pleno século XVII, quando as “cofee-houses” entram na moda em Inglaterra, serviam para tudo- de perigosos locais de tertúlia e crítica política e religiosa, a autênticos gabinetes de curiosidades. O mais notável estabelecimento do género foi o que pertenceu ao barbeiro John Salter – Don Saltero, ajudante do coleccionador Sir Hans Sloane .

Entre as variedades de espécimes que reverteram para o futuro British Museum, podiam encontrar-se tamanhas maravilhas que chegavam para enlouquecer os higienistas da ASAE:
«um pedacinho do templo de Salomão, lágrimas de Job que crescem numa árvore, um curioso pedaço de metal encontrado nas ruínas de Tróia. Um jogo de pérolas feito com os ossos de Santo António de Pádua. Uma curiosa armadilha para pulgas. Um pedacinho da pele da Rainha Catarina. O chapéu da avó da mulher de Poncius Pilatos. Manã de Canaan. Uma serpente basilisca. A vela infalível do Papa. A lança de do Capitão How Tom Sham, rei dos índios Darién, com a qual matou seis espanhóis, e tirou um dente de cada cabeça, colocando-os na lança como troféu».
E muitas outras curiosidades, tais como «um molho de penas petrificadas e azeitonas; uma rãzita num de cachimbo; um pedaço de secundina de elefante, escorpiões pretos e brancos; animais em embrião; a lagarta que come por dentro os pilares da costa da Holanda ou a espinha dorsal de uma serpente cascavel».

A colecção existiu durante mais de um século, acabando por ser vendida em leilão, em 1799. Consta que grande parte das maravilhas deveram-se a doações de um vice-almirante de nome Munden e de outros oficiais que andaram pelas costas de Espanha. Foram estes marinheiros que crismaram o boticário-museólogo de Don Saltero.

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Daniel Lysons, Environs of London, London: T. Cadell and W. Davis, 1811, vol. ii. p. 78.
Angela Todd, “ Your Humble Servant Shows Himself: Don Saltero and Public Coffeehouse Space”, in Journal of International Women’s Studies, Vol 6 #2 Junho, 2005