é preciso ter dedinho
Mas existem para todos os gostos.
Os útilitários– nem sempre apontar é feio- pode servir para informar que é por ali que passavam as canalizações da água do refeitório dos monges de Alcobaça
ou o apontar a dedo sem se saber a quem, de S. Gregório de Valadolid.
a mão fechada, dissimulada que guarda segredo. Com esforço ainda pode passar por prática de esoterismo.
“Se apontas com um dedo és apontado por outros três”.
E, se não sabes ter tino nas mãos, morde o próprio braço.
Os defensivos contra o mau olhado:
Este bascanion, divindade pagã com a cornucópia da abundância e o gesto de enfiar o dedo na boca para lançar saliva contra quem se aproximasse com mais intenções, sintetiza-os a todos.
Foi parar aos Jardins do Duque de Palmela, depois oferecido a Leite de Vasconcelos e está hoje nos reservados do Museu Nacional de Arqueologia. Deve ter sido peça romana, a que mais tarde se acrescentou a legenda em letra gótica: “ninguém não me olhe, e quem me olhar tomo-o“.
Os bascania eram uma espécie de magos, destinados a evitar a entrada do mal do local que protegiam. Entre os romanos fazem parte da variedade de lares familiaris, que também eram destinados aos nichos das entradas das portas.
“Quem o demo toma uma vez, sempre lhe fica o jeito”1
O jeito afeiçoa-se ao gesto. O excesso de visão, provoca o mau olhado; o bascanion tem o dom do espelho. Toma-o e esconjura-o com o gesto do índex erecto enfiado na boca, expelindo o feitiço de volta a quem o lançou. A saliva neutraliza o olhar venenoso, tal como cura a ferida do atacado. Lançada como desprezo e desfeita, ostenta a admoestação.
É claro que nos dias que correm é mais seguro uma caçadeira em casa que dedinhos de cornadura, gravados nas árvores, ou mesmo estes bascania no jardim. Mas, ainda assim, sempre faziam melhor figura que os leões de casa estilo emigrante projectada pelos engenheiros-arquitectos.
E vou mais longe, se os gestos são linguagem,até ficavam muito bem em S. Bento e em Belém.
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1 Cfr: José Leite de Vasconcelis, Opúsculos, vol V, Etnologia, (parte I) Imprensa Nacional, 1983.
5 comments on “é preciso ter dedinho”
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A ver se para a semana sai o post das mãozinhas. Com esse ainda vai haver maior supresa…
Pois é, Eu também gosto muito deste bacana de bascanion. É um disparate estar para lá fechado nas caves do Museu.
E nem se conseguiu datá-lo, Dá ideia que os caracteres góticos foram acrescentados, o que faz todo o sentido.
E tens razão, Paulo. Acho que também não seria insensato pendurá-lo na barra lateral. Com tanto endemoninhado bimba a querer morder as canelas, à falta dos alhos, pode ir uma cuspidela bascania
“:O))
beijocas
Querida Zaz,
cá para mim, gostas tanto do Bascanion por causa da cornucópia e do conexo significado do nome aqui do Blogue.
Mas achei o Bascanion um Bacana. Estou mesmo tentado a pendurar um na barra lateral das «Afinidades…».
Bjoka
Não quer desenvolver?
É que eu fiquei em pulgas para perceber o que é que o Papa a e Igreja Católica ou o latim vêm ao caso, num exemplo de temas pagãos em iconografia religiosa católica.
Palavra. Sou toda ouvidos. Porque é que isto ficava melhor em latim e com sapatos prada? até foi feito dentro de edificios religiosos (tirando o bascanion).
Ou v. quer branquear a História e fazer como os protestantes- destruir toda a representação figurativa que tenha coisas pouco ortodoxas?
No seu caso preferia destruir estas heresias e substitui-las por representações de trilobites ou por macacacos?
Conte, palavrinha. E confirme-me que já está na bicha para a associaçãozinha dos monguitos ateus, que eu gosto muito de guardar testemunhos.
Como ficaria toda esta matéria ainda mais deliciosa se
postada em Latim…
E, porque não, há modas bem menos razoáveis….
Acompanhada, de preferência, com uns sapatinhos Prada
“duarte”