Muito medo e pouca vergonha

Estamos no tempo do Mundo às Avessas, em sentido simbólico e literal, pelo que vem a propósito recordar os que deixam as vergonhas à mostra quando se dobram aos favores mundanos.

Já falámos deles, a propósito da Pecúnia e do peculato que a acompanha e também das ofertas de pitos, das tradições pagãs, dos ritos carnavalescos da renovação das estações.
Este é mais herético e iconograficamente invulgar.
Aparece num riquíssimo turíbulo bizantino em forma de basílica. Enquanto nas portas de acesso ao perfume sagrado, estão vigilantes a Prudência- Fronesis e a Força da persistência na Fé-Andreia, em baixo corre a marginalia das tentações do mundo.
Entre grifos, centauros, à semelhança do caso do cadeiral de Oviedo, o desavergonhado de Bizâncio, que tem sido tomado por um querubim, também se enfia no cesto, mas o que oferece à sereia que o ladeia não são bochechas angélicas, mas o aroma largado pelo traseiro.
  • incensório do século XII, proveniente de Constantinopla
    Basílica de S. Marcos de Veneza, inv. Nº 109, Exposição- Byzantium, Royal Academy of Arts, London

2 comments on “Muito medo e pouca vergonha”

  1. zazie says:

    Mas aqui aparece no sentido dos pecados e virtudes medievais. Não fazia sentido ir buscar o significado clássico a uma cena medieval.

    Mas aqui aparece no sentido dos pecados e virtudes medievais. Não fazia sentido ir buscar o significado clássico a uma cena medieval.

    Beijoca

    Ainda que tenha piada porque o Andreia aparece como homem. Se fosse tradição mais renascentista eram figurações femininas.

    Mas este turíbulo deve ser bizantino, percebe-se a mistura iconográfica.

    A surpresa foi ver lá o gajo enfiado no cesto, com o rabo à mostra.
    O catálogo da exposição segue o critério do inventário e chama-lhe “querubim”. O tanas de querubim

    ehehe

  2. José says:

    tu pões Fronesis como Prudência? Acho que em Platão era só reflexão, esse sentido posterior só lhe veio de Aristóteles. Estarei enganado?

    bj

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