Sangue de drago

Graças ao Google Earth, o Museu do Prado teve a brilhante ideia de filmar alguns quadros por satélite, sendo agora possível visualiza-los nos mais ínfimos detalhes.
Como não podia deixar de ser, o primeiro a ser devassado foi o Jardim das Delícias de Hieronymus Bosch, pintado entre 1503 e 1504.

Aqui fica um “insert” no painel da Criação.
Entre Adão e Eva num Paraíso fantástico em que a Árvore da Vida é um dragoeiro, como os que os portugueses trouxeram das ilhas atlânticas e do qual extraíam o chamado sangue-de-drago, utilizado como fármaco e tintura.

Chegou-se a pensar que havia influência directa na iconografia, mas não. O mais provável é Bosch ter conhecido representações em gravura, como as de Martin Schongauer e Dürer, assim como no Liber Chronicarum de Hartmann Schedel (numa ilustração da Queda Adâmica), publicado em 1430.

O sentido em que Bosch o usa tem sido interpretado como mais uma alusão a um pré-anúncio de Paixão- com o sangue de Cristo e o tema da Eucaristia glosado pelo dragoeiro em cujo tronco se enrolam gavinhas com cachos de uvas pendentes.

No entanto, a inclusão de pequenos dragões alados a tentarem abocanhar os frutos, realçam o duplo sentido deste Peridexion- tal como o gato que abocanha o rato e o coelho-fornicador que os rodeiam- o demónio insinua-se nos detalhes, pronto para disputar as alminhas à Criação.

  • consultar: Laurinda Dixon, Bosch, Phaidon Press Inc, 2003

7 comments on “Sangue de drago”

  1. zazie says:

    Terp:

    Elas têm todas os cabelos encaracolados. Também era moda na época. O que não era moda era os pelinhos que as da fonte da vida têm.

    Devem ser meninas selvagens ou daquelas mais heréticas, anteriores à Criação divina.

  2. zazie says:

    Viva, viva. Então como vão esses carvalhos bem verdinhos?

  3. João Amorim says:

    Sangue-de-drago nunca fez mal a ninguém, eu até me sento num estádio do Dragão.

  4. Curioso o detalhe dos cabelos louros mas encaracolados.

  5. zazie says:

    Via, z:

    Fiz este postalzito a pensar em ti. Mas depois, por causa da senhora devassa também não disse nada.

    ehehe

    E tu sabes destas coisas até dizer chega. Essa do Dodo substituído por perús é deliciosa (salvo seja).

    ————
    Frioleiras,

    És bruxa- usei o termo a pensar nisso- até me lembrei dos inserts do cinema porno à custa do caso.
    Mas a História da Arte é isso mesmo- uma tremenda devassa.

    Ainda assim este foi feito para se ver, está à altura do olhar; não é como as gárgulas. Essas é que custa estragar-lhes o mistério.

    Neste caso, fiquei a pensar que o dragoeiro está tão realista que até custa a crer que ele nunca tenho visto um bem real.

  6. Frioleiras says:

    devassado dizes bem….

    apenas devassado…

    (perde-se cada vez mais o mistério, os mistérios…)

  7. José says:

    que delícia…

    o dragoeiro tem a disseminação baseada na passarada, é muito comum as sementes dos frutos polpudos para germinarem precisam de passar pelo choque ácido dos estomago(s) para activarem a cadeia hormonal.

    (aqui no mediterrâneo muitas precisam de um escaldão de fogo)

    Por exemplo chegou-se à conclusão de que a Calvaria major nas Mauricias estava em extinção por falta do Dodo. Resolveram com uns perús…

    Já a célebre maçã parece que seria antes um pêssego Prunus persica ou um damasco Prunus armeniaca,

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