Mortinha por voltar aos meus selvagens

Aqui fica um e lá para o final da semana misturam-se com os santos loucos


Este faz parte do Smithfield Decretals- e um livro de leis do datado de 1340.
Nas margens iluminadas o exemplo completa os sermões da prédica.
Um eremita, era de tal modo ingénuo que nem sabia em que consistiam os pecados. Um dia, quando cismava na questão, sentado à porta da cabana, aparece-lhe o demo para o instruir.

Este diz-lhe que tem de escolher um entre três: beber, fornicar ou assassinar.
Contaminado pela amoralidade diabólica, o eremita lá pensa que dos três o menos mau seria beber e dirige-se à cidade para experimentar o efeito da dica numa taberna.
Claro que atrás da bebida apareceu a mulher do taberneiro (ou não fosse este o pecado de que mais falta sentia).

Mas há sempre quem estrague um pecado, até a um esfomeado eremita. Um idiota de um moleiro havia de espreitar a cena e não perdeu pela demora. O eremita, assustado com as consequências da devassa, atira-se ao moleiro coscuvilheiro e mata-o.
E pronto. Há razões que a razão desconhece mas que o demo não deixa escapar. O desgraçado do ingénuo eremita acabou por se perder em três, quando só queria provar uma pinga.

Desgraçado com o resultado, chora a sua sorte e acaba por entrar num estado de loucura selvagem. Transformado em semi-animal, vagueia pela como monstro pelos campos, alienado da graça divina.

O mister Hyde está sempre pronto a saltar de dentro do Jeckyll mais naive.

6 comments on “Mortinha por voltar aos meus selvagens”

  1. Laoconte says:

    Gostei!! a súmula da condição humana.

  2. zazie says:

    ehehehe

    Pois é. É xeque-mate.

  3. Pedro says:

    Mas o Demo é sacana: qualquer que ele escolhesse ia dar ao mesmo: Se começa pela mulher, esta deixava-o, o monge metia-se nos copos e matava o taberneiro por ciúme; Se começa no assassinar, bebe antes ou depois, e, já que vai ser condenado pelo crime, nada como uma última prostituta.

    O Demo é lixado, porra.

  4. tolilo says:

    uma delícia passar por este blogue…………………

  5. zazie says:

    Esta versão está um tanto incompleta. Geralmente corresponde à noção de labirinto e a bestialização é transitória- até encontrar nova forma de espiritualizar.

    O sonho de Nabucodonosor fala disso.

    Mas a história dos monges comedores de ervas é diferente- este estádio selvagem até pode ser uma forma de vencer o demo.

    Depois faço outro post a falar nisso.

    O aspecto mais curioso é a função da luta entre dois tipos de riso- um demoníaco, o outro desarmante.

  6. lusitânea says:

    Mas o castigo até parece ser um daqueles que a Palma a ideóloga das teorias humanistas da nossa justiça actualmente defende…
    Assim afinal quem não quer ser “criminoso”?Pricipalmente se a bebida e a mulher forem “boas”…

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