«O funcionamento dos mercados globais de obrigações reduz ou retira dos mercados sociais mundiais muita da liberdade que os seus governos tinham no passado para executar políticas em contraciclo Eles forçam esses governos a voltar a uma situação pré-keynesiana, na qual dispunham de poucas medidas eficientes de gestão macroeconómica para controlar a economia. Esses governos estão condenados a aguardar pelo fim das depressões cíclicas da actividade económica — sejam quais forem os seus custos sociais e económicos.
Ao penalizarem os governos que tentam estimular a actividade económica pelo endividamento ou pela realização de obras públicas, os mercados forçam-nos a voltar a um mundo pré-keynesiano, no qual os governos respondiam às recessões pelo expediente deflacionário desastroso de cortes orçamentais. Assim, os mercados mundiais de obrigações imitam o funcionamento do padrão-ouro. Mas fazem-no sem replicar o seu carácter semiautomático, que conferia um certo grau de estabilidade às economias que governava. Os mercados mundiais de obrigações operam num contexto de incertezas que tomam as variações abruptas provocadas pela especulação (tais como o colapso do mercado global de obrigações no início de 1994) inevitáveis. Os mecanismos do padrão-ouro foram substituídos pelas regras de um casino.»