No Tribunal de Caim
(…)-“De futuro, serás amaldiçoado pela terra, que, por causa de ti, abriu a boca para beber o sangue do teu irmão. Quando a cultivares, não voltará a dar-te os seus frutos. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra”. – Sentencia-o Deus.
-“Eu, que não tenho lugar, desterrado e filho de despejado, vou construir o meu próprio lugar. Eu, a quem o sangue do meu irmão veda o cultivo da terra, vou cultivar o sangue do meu irmão.” – Parece ter sido, arrepiante, a resposta. Deveríamos entendê-la, pois vivemo-la na sua insofismável actualidade e presença. A raça de Caim é uma raça irascível e belicosa: “Matei um homem porque me feriu, e um rapaz porque me pisou –se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete.”, garante e prescreve o seu quadrineto. Nem o tempo, nem a história atenuarão a violência, ou abrandarão a cólera e o rancor.(…)
A ler na íntegra, no Dragoscópio mais uma passagem do Tratado da Besta.
2 comments on “No Tribunal de Caim”
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ahahahahah
Pois foi. Essa passagem foi uma coisa pythoniana.
E o outro fica todo atrapalhado e pede-lhe desculpa, repetindo que era verdade que ele nunca tinha dito “e coisa e tal”
“:O))))))
Como é que aqueles marretas conseguiram dizer um disparate destes com ar tão sério.
Tinha de ser ele.
Vi agora a conversa entre o Saramago e o Carreira das Neves. Diverti-me bastante.
-Aqui o José Saramago diz que a Bíblia não sei quê e tal.
-Alto, que eu nunca disse que a Bíblia não sei quê e tal.