Frágil como o vidro
E o corpo virginal de raística donzela…
Há-de fundir no mesmo beijo cristalino
Os lábios da mulher e a chaga dolorida;
Tudo o que é deste mundo e tudo o que é divino,
Tudo o que encerra em si o hálito da Vida!
É preciso que saiba o homem conhecer,
No seu íntimo ideal, as cousas que murmuram…
Ê preciso subir aos astros e descer
Ao fundo duma flor, onde outros sóis fulguram!
Preciso é ouvir a voz de todo o lábio mudo
E ver o que há de luz em cada sombra triste.
É preciso amar tudo e compreender tudo.
Só neste sábio amor a Perfeição existe!
Devemos estudar, cheios de comoção,
A rosa que murchou ao fogo duma mágoa…
Que vá precipitar-se o nosso coração
Nesse abismo sem fim que há numa gota d’água!
É preciso sentir, sofrer todo o martírio.
De cada cousa obscura o espírito alcançar…
Conversar com a luz, conviver com um lírio,
Nossos lábios unir aos lábios do Luar!…
É preciso viver, Senhor, todas as vidas,
Das árvor’s entender a sua língua estranha…
Ser o sangue auroreal de todas as feridas,
Ser estrela, ser luz, ser nuvem, ser montanha!
Cada alma há-de sentir em si todas as almas,
Cada ser viverá a vida universal…
A vida duma estrela em doces noites calmas
E, num magoado Outono, a vida d’ermo vai’!…
A alma viverá na oculta consciência
Que brilha numa flor e nas nuvens da serra…
Nossa alma há-de viver na criadora essência
Que na árvore do Azul pôs este fruto — a Terra!…
E a nossa alma será um infinito lar,
Donde todo o Universo, em chamas de fulgor,
O próprio coração de Deus há-de alcançar.
Irradiando a Justiça, a Verdade e o Amor!…
Só então, meus irmãos, tereis a Felicidade
Teixeira de Pascoaes