As bolhas da macacada #3
Ben Jonson,Mercury vindicated from the Alchymists, 1616
Era assim que o dramaturgo britânicoBen Johnson resumia a charlatanice do tempo, em mascaradas e comédias alegóricas, onde os alquimistas iam para a berlinda.
No texto citado no post anterior , Roger-Pol Droit também refere as magias financeiras e suas derrocadas como arte de alquimistas dos novos tempos.
Esquece-se é que foi precisamente por esse nome que foram gozados desde a bolha das túlipas na Holanda, passando pelas duas catástrofes simultâneas – a bolha do Mississipi, e a dos Mares do Sul, em Inglaterra, no ano de 1720, como contámos aqui.
O próprio Bem Johnson incluía nesse rol de “alquimistas” os charlatães adoradores de Mammon, sempre acompanhados do “séquito mercurial” (ver: Cynthia Revels (1601) e Mercury vindicated from the Alchymists ).
Era com o uso de mercúrio que se sonhava com a transmutação dos metais e a descoberta do lápis- a pedra dos filósofos. E foi também com o uso de mercúrio amalgamado que se passou a fabricar a liga de prata que, a par da política de livre cunhagem, levada pelos marranos portugueses para a Holanda, esteve na base da expansão monetária e das primeiras grandes crises financeiras.
E é também pelo mesmo motivo que as gravuras satíricas, destas desgraças de que agora tanto se fala, incluíam o divino Mercúrio aprisionado, como na sátira do Arlequim Accionista, ou mesmo a pedir esmola, enquanto o expert John Law soltava gargalhadas pela venda de ar e o accionista se lamentava do engano.
A fraude financeira assemelhava-se a uma demoníaca tentação e engano. As gravuras repescavam iconografias antigas, fazendo-a figurar como uma quimera ou monstro ctónico- semelhante a um Anúbis mercuriano, como acontece neste exemplo.
O predador da ilusão e das trevas (antepassado de um yuppie lobisomem), deita-se sobre o saco das acções- ventos do dia seguinte, emparelhando com uma aterrorizadora Equidna.[De laggende Law, de treurende actionist met de smekende Mercurius. [Law laughing, the shareholders mourning, and Mercury entreating.] Publicada em Amsterdão, 1720]
No fim, tal como sucedeu uns séculos mais tarde na América e de forma bem real, com os internamentos kellog para banqueiros em ressaca, também acabavam em caricaturas de maluquinhos, oferecendo as cabecinhas pensadoras à extracção de outra pedra- a da loucura.
Pena é que nunca se aprenda com a História e muita falta faz hoje em dia este talento artístico e literário para o relatar.
- Ver: DOUGLAS E. FRENCH, Early Speculative Bubbles and Increases in the Supply of Money, 2ª ed. Mises Institute
- Charles Mackay, Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds,1841.
- E também o excelente site já referido- The Bubble Project, de onde provêm as imagens.