As raças fantásticas aos dispor do rei
Monstro significa o que é contrário à ordem da natureza. Varrão (116-27 A.C.) lançou as bases da definição que iriam ser seguidas na Idade Média. Monstrum, portentum, prodigium, como os define Santo Agostinho, derivam de mostrar, porque pressagiam qualquer coisa, são sinais e prodígios, derivam de portendo e porro. Na etimologia medieval monstrum está associado ao verbo monere– “advertir”.
Deve-se a Aristóteles uma das primeiras aproximações teóricas à noção de monstro. Na Geração dos Animais, o filósofo defende que a reprodução ideal entre os seres é a que se faz por semelhança; quanto mais um ser se afasta desse modelo maior acréscimo de imperfeição; o último estádio dá lugar ao monstro. A primeira característica do monstro, portanto, é ser diferente.
Esta noção vai ser desenvolvida por Santo Agostinho na Cidade de Deus. Tomando por critério de normalidade a beleza do Universo no qual a dissemelhança é apenas uma excepção, a grande dúvida estava em saber-se se estes seres eram humanos ou animais. O autor vai concluir que são produto da criação divina mas derivam do pecado humano. O nascimento de seres monstruosos entre os humanos só pode ser justificado pela própria existência, algures no mundo, de raças monstruosas. O principal fundamento consiste em provar-se que Deus não errou na criação. Só ele sabe ordenar a beleza, a similitude e os contrastes. Ao homem escapa-lhe o plano total, ficando-se pela aparência disforme de tudo o que é parcial. Os monstros existem para ilustrarem o mistério da criação. São reveladores. Revelam-nos a consciência da nossa beleza e são o sintoma do sinal contrário maligno. Acontecem porque a natureza saiu do seu curso habitual; porque exorbitou.
A deformação física destes seres manifesta-se assim, num misto de falta e excesso – são seres prodigiosos porque lhes falta a regularidade da medida e da harmonia – possuem a marca da exorbitância física e, por isso, são conotados com os aspectos pecaminosos da carne.
Ultrapassam as suas deficiências por um excesso de vitalidade. Os pigmeus apesar de demorarem três anos de gestação, reproduzem-se com uma rapidez espantosa para morrerem aos oitos anos de vida; outros que, tendo apenas um só pé (os Ciápodes) correm à velocidade do vento, etc, etc. (Cardeal D’Aily- Imago Mundi, c.1410)
Transmitem-se à Idade Média por uma longa série de lendas e, curiosamente, no que respeita às ditas raças fantásticas mantém-se uma classificação praticamente inalterada.
As descrições mais antigas provêm de Homero, e Hesíodo referem algumas dessas lendas mas a catalogação mais importante é feita por Ctésias de Cnido, no sec. VIII a.C. que foi médico na corte do rei persa Antexerxes II e redigiu o tratado fabuloso Indika trazendo para o Ocidente estas lendas.
Plínio o Velho, na História Natural (c.77 da nossa era) procedeu a uma gigantesca compilação donde provem a maior parte dos monstros medievais. A ele se deve a atribuição climatérica das disformidades.
Deve-se a Aristóteles uma das primeiras aproximações teóricas à noção de monstro. Na Geração dos Animais, o filósofo defende que a reprodução ideal entre os seres é a que se faz por semelhança; quanto mais um ser se afasta desse modelo maior acréscimo de imperfeição; o último estádio dá lugar ao monstro. A primeira característica do monstro, portanto, é ser diferente.
Esta noção vai ser desenvolvida por Santo Agostinho na Cidade de Deus. Tomando por critério de normalidade a beleza do Universo no qual a dissemelhança é apenas uma excepção, a grande dúvida estava em saber-se se estes seres eram humanos ou animais. O autor vai concluir que são produto da criação divina mas derivam do pecado humano. O nascimento de seres monstruosos entre os humanos só pode ser justificado pela própria existência, algures no mundo, de raças monstruosas. O principal fundamento consiste em provar-se que Deus não errou na criação. Só ele sabe ordenar a beleza, a similitude e os contrastes. Ao homem escapa-lhe o plano total, ficando-se pela aparência disforme de tudo o que é parcial. Os monstros existem para ilustrarem o mistério da criação. São reveladores. Revelam-nos a consciência da nossa beleza e são o sintoma do sinal contrário maligno. Acontecem porque a natureza saiu do seu curso habitual; porque exorbitou.
A deformação física destes seres manifesta-se assim, num misto de falta e excesso – são seres prodigiosos porque lhes falta a regularidade da medida e da harmonia – possuem a marca da exorbitância física e, por isso, são conotados com os aspectos pecaminosos da carne.
Ultrapassam as suas deficiências por um excesso de vitalidade. Os pigmeus apesar de demorarem três anos de gestação, reproduzem-se com uma rapidez espantosa para morrerem aos oitos anos de vida; outros que, tendo apenas um só pé (os Ciápodes) correm à velocidade do vento, etc, etc. (Cardeal D’Aily- Imago Mundi, c.1410)
Transmitem-se à Idade Média por uma longa série de lendas e, curiosamente, no que respeita às ditas raças fantásticas mantém-se uma classificação praticamente inalterada.
As descrições mais antigas provêm de Homero, e Hesíodo referem algumas dessas lendas mas a catalogação mais importante é feita por Ctésias de Cnido, no sec. VIII a.C. que foi médico na corte do rei persa Antexerxes II e redigiu o tratado fabuloso Indika trazendo para o Ocidente estas lendas.
Plínio o Velho, na História Natural (c.77 da nossa era) procedeu a uma gigantesca compilação donde provem a maior parte dos monstros medievais. A ele se deve a atribuição climatérica das disformidades.