o outro e o mesmo

A prova de que os nossos olhos também já se tinham habituado àquele lugar, tive-a quando o Poeta começou a fantasiar à volta de uma panócia. Era atraído por aquelas suas orelhas fluentes, excitava-o a brancura da sua pele, achava-a muito maleável e com os lábios bem desenhados. Tinha visto dois panócios a acasalarem num campo e adivinhava que a experiência devia ser deliciosa: ambos se envolviam um no outro com as suas orelhas e copulavam como se estivessem dentro de uma concha (…)Depois, como teve reacções esquivas da panócia de quem tentara aproximar-se, apaixonou-se por uma fêmea dos blémios. Achava que, à parte a falta de cabeça, tinha uma cintura fina e uma vagina convidativa, e além disso poderia beijar na boca uma mulher como se lhe beijasse o ventre.”

Umberto Eco, Baudolino

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