E um muito cá da cocanha

“— O sono, caro Chevalley, o sono é que o Sicilianos querem, e eles odiarão sempre a quem quiser despertá-los, nem que seja para lhes trazer os mais belos presentes; e, seja dito aqui entre nós, tenho fortes dúvidas de que o novo regime tenha muitos presentes par nos trazer na bagagem. Todas as manifestações sicilianas são manifestações oníricas; a nossa sensualidade é desejo de olvido, os tiros e as nossas facadas, desejo de morte; desejo de imobilidade voluptuosa, também desejo de morte como a nossa preguiça, os nossos sorvetes de cercefi negra e de canela; o nosso ar meditativo é o nada a querer escrutinar os enigmas do nirvana. Daí provém o poder insolente que entre nós têm certas pessoas, precisamente aquelas que estão meio acordadas, daí o tal famoso atraso de manifestações artísticas e intelectuais sicilianas; as novidades atraem-nos apenas quando são defuntas, incapazes de dar lugar a correntes vitais; daí o incrível fenómeno da formação actual de mitos que seriam veneráveis se fossem autenticamente antigos, mas que não são mais do que sinistras tentativas de nos refugiarmos num passado que nos atrais apenas porque está morto”.

6 comments on “E um muito cá da cocanha”

  1. candida says:

    afinal quem anda por aqui a dar esmolas sou eu.

  2. zazie says:

    pois é josé. Não sei bem explicar mas quase diria que aquilo a que se costuma chamar “consciência política” no que me toca está toda aqui. No Principe Salina. E não foi uma descoberta- foi um encontro que tinha de acontecer “;O)

  3. josé says:

    Interessa-me lá o Visconti! Interessa-me sim o Leopardo, cara Zazie, que também é muito lá da minha cabeceira. Se há grandes livros este é um deles. E escolheste logo a melhor parte, a conversa do Príncipe com o pobre Chevalley. é uma conversa lixada, que me lembra isto aqui onde vivemos. noi siamo siciliani! só não temos é a vendetta a tiro…

  4. Ahab says:

    Lampedusa… a partir do qual o Visconti fez “O Leopardo”.

    Só é pena eu não partilhar o entusiasmo que toda a gente demonstra pelo filme.

    Visconti a sério, aquele que vale a pena, é o do “Senso”!

  5. zazie says:

    e cheiraste bem perto… bem pertinho que ele também cheirou “;O)

  6. C. says:

    nunca li mas cheira-me a… visconti? 😉

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