regressando ao nosso príncipe
“As pessoas pensam lá nos méritos dos carregadores e dos bombeiros; olham apenas para os seus defeitos marginais, a todos tratam como mariolas e presumidos; e já que vossemecê não pode ouvir-me posso dizer-lhe que conheço muito bem o significado corrente da palavra “jesuíta”. Depois, estes nobres têm o pudor das desditas próprias: cheguei a ver um, o desgraçado, que decidira matar-se no dia seguinte, e que parecia sorridente e cheio de vida como um rapaz na véspera da Primeira Comunhão; ao passo que vossemecê,don Pietrino, confesse lá, se se visse obrigado a beber uma das suas infusões de sene, havia de ensurdecer cá a terrinha com as suas lamentações. A cólera e a ironia são aristocráticas; a elegia e a plangência, não.
Vou até dar-lhe uma receita: se encontrar um fidalgo lamuriento e chorão, examine-lhe a árvore genealógica; mais tarde ou mais cedo encontrará nela um ramo seco. Uma casta difícil de suprimir porque, no fundo, se renova continuamente e porque, quando é preciso sabe morrer bem, isto é: sabe lançar a sua semente no momento do fim. Olhe em França: fizeram massacrar com elegância e, agora, lá estão como antes, digo como antes porque não são os latifúndios e os direito feudais que fazem o nobre, mas as diferenças de natureza. Contaram-me que há agora em Paris condes polacos que as insurreições e o despotismo obrigaram ao exílio e à miséria; fizeram-se condutores de fiacre, mas encaram os seus clientes burgueses com tal catadura, que os pobrezinhos entram para o carro, sem saber porquê, com o ar humilde de cães a entrarem numa igreja. E digo-lhe mesmo,don Pietrino, se, como tantas vezes aconteceu, esta classe devesse desaparecer, constituir-se-ia logo outra equivalente, com as mesmas qualidades e os mesmos defeitos: já não seria talvez fundada sobre o sangue, mas, que sei eu…sobre a antiguidade da sua presença num dado lugar, ou um seu pretenso melhor conhecimento de qualquer texto presumidamente sagrado.”
Vou até dar-lhe uma receita: se encontrar um fidalgo lamuriento e chorão, examine-lhe a árvore genealógica; mais tarde ou mais cedo encontrará nela um ramo seco. Uma casta difícil de suprimir porque, no fundo, se renova continuamente e porque, quando é preciso sabe morrer bem, isto é: sabe lançar a sua semente no momento do fim. Olhe em França: fizeram massacrar com elegância e, agora, lá estão como antes, digo como antes porque não são os latifúndios e os direito feudais que fazem o nobre, mas as diferenças de natureza. Contaram-me que há agora em Paris condes polacos que as insurreições e o despotismo obrigaram ao exílio e à miséria; fizeram-se condutores de fiacre, mas encaram os seus clientes burgueses com tal catadura, que os pobrezinhos entram para o carro, sem saber porquê, com o ar humilde de cães a entrarem numa igreja. E digo-lhe mesmo,don Pietrino, se, como tantas vezes aconteceu, esta classe devesse desaparecer, constituir-se-ia logo outra equivalente, com as mesmas qualidades e os mesmos defeitos: já não seria talvez fundada sobre o sangue, mas, que sei eu…sobre a antiguidade da sua presença num dado lugar, ou um seu pretenso melhor conhecimento de qualquer texto presumidamente sagrado.”
4 comments on “regressando ao nosso príncipe”
Comments are closed.
Esta conversa do Padre Pirrone é também uma pérola, Zazie. Põe também aquele bocado em que ele compara a aristocracia e a Igreja quanto às respectivas perspectivas de durabilidade, tá bem?
É que eu emprestei o livro e já estou a ressacar…
No meu comentário, eu tambem não usei a palavra conservador no mau sentido.
eu nunca fiz uso da palavra conservador em sentido negativo. Sou uma conservadora também. Conservar o que é bom, restaurar o que é possível, manter e defender o que está irremediavelmente condenado pelo tempo.
Sim, é um grande livro. Mas para se entender isto é preciso não ter reservas mentais ou já se ter livrado delas há muito.
Este texto tem muitissimo que se lhe diga…
Eu vou começar pelo pessimismo antropologico. Este principe é um autentico conservador. Não concordas?
Estás-me quase a convencer a ir comprar o livro. É que apenas conheço o filme do Visconti, que, como já te disse, não é dos meus preferidos.