o poder do verbo
Colombo, quando chega à América, julgando estar no Oriente, às portas do Paraíso Terrestre, socorre-se sempre dos relatos fabulosos para comprovar a realidade precisa que a experiência oferecia. Tem a perfeita noção que precisa de suscitar nos leitores e nos reis Católicos o entusiasmo que lhe permita empreender novas viagens. Por isso fantasia e conta que viu o que nunca poderia ter visto, desde tritões a outros seres fabulosos.
A dada altura enuncia este pensamento: “estou certo que todas estas coisas contadas ainda serão mais maravilhosas que para quem as viu”.
Como diria o Eco:
“—Baudolino, recorda-te do reino do Presbyter Johannes(…)
— Mas porque mo dizes a mim, mestre, e não a Rathewino?
—Porque Ratewino não tem fantasia, só pode contar o que tiver visto, e certas vezes nem isso, porque não compreende o que vê. Tu, em contrapartida, podes imaginar o que não viste.”
Modos de mentir acerca do futuro também produzem história — It’s just another story. Pode ser lida de muitas maneiras.
Gravura: “peixe porco”, Sebastian Brant, Fables d’Ésope, 1501, “visto” também por Cristóvão Colombo.
2 comments on “o poder do verbo”
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exactamente! é isso mesmo. E és tu e a menina Cris com o Walser “;O)
beijinhos
Que giro! Não conhecia esta costela efabuladora do Colombo. Fez-me recordar aquela frase do Robert Walser: «Não, diz, o que vês? Diz logo. Através dos teus lábios deduzirei o bonito desenho desse quadro. Se o pintasses, por certo atenuarias habilmente a intensidade da visão. Então, o que é? Em vez de olhar, prefiro escutar». Foi assim que o JCM justificou a fotofobia da sua Branca de Neve.
Beijinhos!
Flávio Sousa