olhar excessivo

a Cris falou no Tirésias e fiquei com vontade de o recordar. Neste caso sob a forma de uma das gárgulas que mais me fascina.
Não faço ideia se é o velho Tirésias, nem que se a doce menina lhe quer sair pelo peito. Já lá estive em cima e recusei confirmá-lo. As gárgulas não foram feitas para serem desvendadas.
Há momentos em que apetece fazer o mesmo em relação ao grotesco que anda cá por baixo. Ficarmos cegos como o velho adivinho, torná-los nuvem e dissolvermo-nos nela.

(…) At the violet hour, when the eyes and back
Turn upward from the desk, when the human engine waits
Like a taxi throbbing waiting,
I Tiresias, though blind, throbbing between two lives,
Old man with wrinkled female breasts, can see
At the violet hour, the evening hour that strives
Homeward, and brings the sailor home from sea,
The typist home at teatime, clears her breakfast,
lights
Her stove, and lays out food in tins.
Out of the window perilously spread
Her drying combinations touched by the sun’s last rays,
On the divan are piled (at night her bed)
Stockings, slippers, camisoles, and stays.
I Tiresias, old man with wrinkled dugs
Perceived the scene, and foretold the rest —
I too awaited the expected guest
He, the young man carbuncular, arrives,
A small house agent’s clerk, with one bold stare,
One of the low on whom assurance sits

As a silk hat on a Bradford millionaire.
The time is now propitious, as he guesses,
The meal is ended, she is bored and tired,
Endeavours to engage her in caresses
Which still are unreproved, if undesired.
Flushed and decided, he assaults at once;
Exploring hands encounter no defence
His vanity requires no response,
And makes a welcome of indifference.
(And I Tiresias have foresuffered all
Enacted on this same divan or bed;
I who have sat by Thebes below the wall
And walked among the lowest of the dead.)
Bestows one final patronising kiss,
And gropes his way, finding the stairs unlit (…)

T.S.Eliot, The Waste Land

7 comments on “olhar excessivo”

  1. zazie says:

    ahahaha tipo Hatsepsut ou mártir Wilgeforte, a barbadinha brasuca ahahah mas essa é cá uma história

    “:O)))

    tens de fazer um post

  2. Flávio says:

    lol O filme bera francês chamava-se precisamente ‘Tiresia’ e tive oportunidade de ir à ante-estreia portuguesa no falecido cinema S. Jorge. Na altura, conversei com a tal actriz brasileira, uma rapariga lindíssima e encantadora. Só foi pena, realmente, a barba postiça dela, não sei onde é que o realizador tinha a cabeça.

  3. zazie says:

    que coisa maluca com esse filme, Cris, nem imaginas… de uma das vezes perdeu-se ao comprimir, das outras não abre em todos os computas… deve ser só para eleitos “:O))

    Vê as gárgulas pois e se conseguires ir lá a cima aos telhados nem te digo. mete a cabeça dentro da janela abertura que dá para a parte superior da famosa abóbada e vais ver que nunca mais esqueces…
    ehehehe de preferência leva máquina para apanhares o “bicho”

    Metrololis, gosto tanto desses teus relatos cinéfilos. Pois eu também gosto muito do Tirésias mas fiquei curiosa com essa versão no filme bera francês em que ele faz de brasileira barbada…

    “:O)) conta lá isso, rapaz!

  4. Flávio says:

    Sou um fã do Tirésias, deve ser das figuras mitológicas gregas mais fascinantes e influentes. No cinema, ele está em toda a parte: o mendigo no M do Fritz Lang, o ferroviário negro dos irmãos Coen e um filme francês horroroso e protagonizado por uma fulana brasileira de barba postiça.

  5. C. says:

    em casa não, nem no meu computador aqui do escritório, não sei o que se passa, falta-me um plugin qualquer mas descobri um computador aqui na sala onde passa, por isso vou conseguir ver 🙂

    tenho de fazer uma visita de estudo por essas bandas

    beijos
    cristina

  6. zazie says:

    pois era Cris, ficou com esse castigo de ter de carregar ciclicamente os dois sexos. Está na Batalha que é onde existem as gárgulas mais fantásticas cá da nossa terra. Na Batalha e em Tomar

    e funciona, Cris? espero que desta vez funcione, que diabo…
    bjs

  7. C. says:

    o tirésias foi mulher, ele conta essa história no texto de pavese e no filme de straub. o diálogo dos cegos (édipo e tirésias) é o meu preferido, ontem voltei a vê-lo 🙂

    onde é que está esta gárgula, zazie?

    p.s. ontem recebi o carteiro, muito obrigada 🙂

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