Acidentes de caminho de ferro
Em virtude de um curioso instinto atávico as multidões experimentam uma inexplicável necessidade de se esconderem no interior de coisas fechadas e de aspecto agressivo, tal como fazia o homem primitivo nas cavernas.
O vestígio mais fácil de estudar desta tendência é a afluência de nos viajantes para as carruagens de comboio. Desgraçadamente, esses estranhos impulsivos são muitas vezes vítimas do seu regresso à barbárie – a idade do ferro não significa um grande progresso sobre a da pedra-, e o choque de comboios desta quinzena extinguiu um grande número de espécimes desta classe de trogloditas.
A civilização ambiental está demasiado desenvolvida para permitir que muitos desses loucos a levem avante. Pois não é coisa de loucos ou de desesperados deixarem-se encerrar sem resistência em jaulas rolantes, à mercê de alguém que não tem outro intento que arrastá-los não se sabe para onde, a toda a velocidade, sobre vias propositadamente complicadas que se cruzam na maior quantidade de pontos?
A civilização ambiental está demasiado desenvolvida para permitir que muitos desses loucos a levem avante. Pois não é coisa de loucos ou de desesperados deixarem-se encerrar sem resistência em jaulas rolantes, à mercê de alguém que não tem outro intento que arrastá-los não se sabe para onde, a toda a velocidade, sobre vias propositadamente complicadas que se cruzam na maior quantidade de pontos?
Afred Jarry, Escritos Breves
2 comments on “Acidentes de caminho de ferro”
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Finalmente alguém me explica, com clareza, a razão por que a nossa CP desactiva linhas. Mais uma estátua. Esta para a CP.
Um carro descapotável, só de um lugar…
a pedais !