du grand singe papion Bosse-de-Nage

AQUELE QUE NÃO SABIA UMA PALAVRA HUMANA A NÃO SER: “HÁ-HÁ”
Para Christian Beck

“Hei, tu aí, disse gravemente Girimon; no que te diz respeito, tirar-te-ei a tua túnica para fazer uma vela de tempestade: as tuas pernas para mastros; os teus braços para varas; o teu corpo para casco, e f… à água com seis polegadas de chapa no ventre para fazer de lastro… E como, quando fores um navio, será a tua cabeça gorda o que servirá de figura de proa do navio, então baptizar-te-ei de: o malandro b…”
Eugène Sue, A Salamandra (o pequeno jogo dos diabos)

Bosse-de-Nage era um babuíno, menos cino- que hidrocéfalo, e por conseguinte, menos inteligente que os seus pares. A calosidade vermelha e azul que normalmente ostentam nas nádegas foi, neste caso, deslocada usando um medicamento curioso, por Faustroll para as bochechas; azul ultramarino numa e escarlate noutra, de modo que a sua cara ficasse tricolor.

Não contente com isto, o bom doutor quis ensiná-lo a falar; e se Bosse-de-Nage (assim chamado por causa da dupla saliência das bochechas acima descrita) não estava completamente familiarizado com a língua francesa, ele pronunciava muito correctamente algumas palavras belgas, chamando ao colete salva-vidas pendurado no casco do barco de Faustroll de: “bexiga nadadora com inscrição escrita,” mas mais frequentemente ele proferia um monossílabo tautológico:

“Há há”, dizia ele em Francês; e não adiantava mais nada.

Esta personagem será muito útil no curso deste livro, em forma de paragem nos intervalos dos discursos excessivamente longos; como é usado por Victor Hugo.

É tudo?
-Não, escutem ainda:

E Platão, em diversas passagens:

“-Assim faleis a verdade, retorquiu ele.
-É verdade.
-É mesmo verdade.
-É claro, disse, mesmo para um homem cego.
-É óbvio.
-É um facto óbvio.
-É mesmo assim.
-Assim parece.
-Também sou da mesma opinião.
-De facto, parece na realidade que é verdadeiro.
-É mesmo assim, retorquiu ele.
-Também sou dessa percepção.
-Absolutamente, ele retorquiu.
-Assim se fala sabiamente.
-Bem.
-Certamente, claro.
-Eu recordo.
-Sim.
-É como diz.
-Penso que sim, e de forma peremptória.
-Eu concordo.
-Muito bem.
-Isto é sem dúvida correcto, ele retorquiu.
-Isso é verdade, retorquiu ele.
-Isso é verdadeiramente necessário.
-Por todos os meios.
-Por todos os meios verdadeiramente.
-De todo o modo por todos os meios.
-Nós admitimos.
-Isso é verdadeiramente necessário.
-Muito.
-Mesmo muito de facto.
-Isso é lógico, de verdade.
-Como pode ser isso?
-Como pode ser de outra maneira?
-Então como?
-Como?
-Assim se fala verdade.
-O verdadeiro que isso o parece ser.”

Segue a narrativa de René-Isidore Panmuphle.

ALFRED JARRY – “GESTOS E OPINIÕES DO DR. FAUSTROLL, PATAFÍSICO, ROMANCE NEO CIENTÍFICO” [1898-publicado em 1911]

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