napoleónica de fim-de-semana

Esta não era da freguesias das Mercês, mas também podia ter chegado a Hollywood

Num patriotismo de levar às lágrimas, dissertava o erudito Professor Cunha Bellem, numa Ilustração Moderna de 1927, a propósito de belezas pátrias inigualáveis – como a ria de Aveiro, que só lhe faltava um Rossio para termos “uma Veneza mil vezes mais linda do que as dos Capuletos e Montecchios”-, quando finalmente chega à Curia, mesmo a tempo de assistir à entronização da beldade local que se pode ver na foto.

O excelso concurso teve no júri nada mais que Palmira Bastos e Leitão de Barros que coroaram a pequena, Isabel Gomes Teixeira de Barros que seguiu depois para casa do arqueólogo Marques Gomes onde o viajante a entrevistou.
Aqui fica um excerto do relato:

“Buffon afirmava que o estilo é o homem e não me resta dúvida que, parafraseando, a moral é a mulher.
Depois de uns cumprimentos banais de parabéns, embevecido na formosa e cativante modéstia de Isabel de Barros, perguntei-lhe:
– Porque não concorreu a miss Portugal , no certame americano? Dificilmente poderiam arrancar-lhe o primeiro lugar!
E ela, baixando os seus formosíssimos olhos garços, deixando cair sobre as pupilas scintilantes de graça o véu das suas pálpebras orladas de recurvas pestanas, balbuciou timidamente, como que a medo:
– Ó meu senhor, então eu havia de me mostrar em fato de banho diante daquela gente toda?!
– Estava definida a mulher, símbolo augusto da ternura e do amor. Era a mulher honesta de outros tempos, a esposa casta, a donzela tímida e recatada tal qual há sessenta anos a conheci na minha adolescência. E tive ânsia de a levantar nos braços ainda robustos e gritar a essa degenerescência feminil que por aí estadeia as pernas e as formas numa provocação constante e permanente: Flecti os joelhos oh! donzelas dos tangos e Fox trots e admirai essa linda rapariga, modesta, obscura, e que a multidão compacta que transbordava na Cúria, sagrou rainha da formosura!
E com tal rainha até o meu querido amigo pessoal, está entendido, o sr. Dr. José Lopes d’Oliveira, o mais assanhado jacobino que tenho conhecido, até esse, com o seu cérebro de fogo, ao serviço de uma alma de anjo, até esse jacobino-mór, beijaria a mão de uma rainha!!

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