Os gigantes de jardim

As estátuas gigantes a servirem de oráculos ou a guardarem segredos nas cavernas misteriosas que se abriam no seu corpo, escondiam cavernas misteriosas, estiveram muito em moda e anteciparam a própria ideia do corpo humano como máquina, das pesquisas de Descartes.

D. João II acreditava que existia um gigante nas ilhas açorianas, que apontava o caminho marítimo para a Índia e chegou a mandar uma expedição para o encontrar.

O colosso do Apenino, da autoria de Jean de Bologne (Giambologna-1529-1608), nos jardins de Francisco de Médicis nas imediações de Florença, ficou na memória dos viajantes da época. Montaigne descreveu-o como um gigante ciclope que fazia jorrar água da abertura do olho.

Salomon de Caus (1576-1626), o huguenote e engenheiro hidráulico que desenhou os jardins do palácio de Heidelberg, inspirou-se nele para as fantásticas obras de engenharia ficcionada, e compiladas no tratado Les Raisons des forces mouvantes (1615).

Tudo indica que Descartes leu o livro e até terá visto alguns desses autómatos nos jardins da corte germânica de Frederico V, transpondo as fantasias artísticas para a sua visão do mundo como teatro animado.

As entranhas das antigas divindades accionadas a água, vão transitar para o homem relógio, percorrido pelos espíritos animais. Nada se perde, tudo se transforma, o que a razão dispensou, aproveitou-se para a arte.
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Consultar: Jurgis Baltrusaitis, Anamorphoses ou Thaumaturgus opticus, Flammarion, Paris, 1984
imagens:1- O Appenino de Giambologna (1580) no parque de Pratolino (Florença); 2- Figura representando um rio com grutas escavadas no interior, Salomon Craus, 1615; 3- “Gruta de Orfeu que se podia fazer na figura precedente”, Salomon Craus, 1615.

2 comments on “Os gigantes de jardim”

  1. Flávio says:

    Devia ser a Natália Correia lol

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