Quando a cabeça não tem juízo o animal é que paga
Um dos grandes debates medievais prendia-se com a questão de se saber quem tinha ensinado sexo a quem.
Ou seja, o sexo era uma javardice e prova da nossa animalidade mas com quem a aprendemos era a grande dúvida.
De acordo com a tradição dos estudos bíblicos, tinha sido a serpente a responsável pelo ensino do coito à Eva. O problema mais íntimo consistia na forma como se dera a aprendizagem. Seria verdade que a serpente tinha mesmo desflorado a Eva, ou apenas lhe havia dado “umas dicas” daquela arte de imitar a bicharada?
Santo Agostinho foi dos primeiros a advertir para o perigo da interpretação literal, sob pena da bestialidade se ter antecipado na história do sexo.
É claro que saber-se quem havia inventado a brincadeira tinha grande importância, se não pedagógica, pelo menos no que toca a alguma originalidade mais racional.
Clemente de Alexandria foi dos que mais combateu esta hipótese de imitação animalesca por parte do casal primordial. Se assim fosse, quase ficaria demonstrado que mais valia que os eleitos tivessem sido “macacos”. Ele não dizia bem assim, mas a ideia era essa. Se os mestres fossem os bichos e os humanos os discípulos, a natureza humana era delegada irremediavelmente para segundo plano na Criação.
Para melhor defender a ideia, Clemente de Alexandria exagerou na humanidade do sexo. Lembrou-se da Midrash Judaica que contava a história ao contrário. Tinha sido Adão e Eva quem ensinara a bicharada a fornicar!
Clemente era um naive; pensava até que era por essa razão que os animaizinhos faziam sexo de modo muito semelhante aos humanos.
Está claro que não foi esta a tese que predominou na Idade Media, quanto mais não fosse, porque a sodomia e as posições contra natura eram condenáveis e seria mais difícil mudar os hábitos da bicharada, que contrariar os maus costumes dos pecadores.
A questão acabou por ficar mais ou menos arrumada entre a irracionalidade e a concupiscência dos instintos que, no dizer de S. Tomás de Aquino, transformava o homem numa autêntica besta.
Na volta, quem acabou por apanhar com as culpas foram os animais.
Alberto o Grande, por exemplo, ainda se deu ao trabalho de caracterizar estas diferenças de coito. E chegou à conclusão que os bichos eram muito mais ruidosos nesses momentos de êxtase. Dizia o grande teórico que, nessas intimidades, os humanos até são muito mais discretos, racionais e comedidos…
Sendo assim, os que o não eram, tinham excesso de animalidade dentro do corpo. Não tardou muito para que se procurassem exemplos desses exageros em certas alimárias mais expansivas. As ursas então, coitadas, ainda ficaram com pior fama, à custa daquela lenda que as crias nasciam incompletas, por causa dos exageros de desejos das mães que nem prenhes acalmavam os calores…
Mas essa história fica para outra ocasião.
………………………………….
[até porque este post é apenas uma resposta ao nosso conselheiro poético. Um poema é um poema, é um poema, diz ele, mas ainda não pagou os 5 euros à porca do musaranho]
Paolo Ucello, Pecado Original, (det), 1432-36, fresco, Claustro de Igreja de Santa Maria Novella, Florença.
Consultar: Joyce E. Salisbury, The Beast Within. Animals in the Middle Ages, Routledge, Londo, 1994.
4 comments on “Quando a cabeça não tem juízo o animal é que paga”
Comments are closed.
articuláveis e rijas. Tudo em chapa metalizada e a olear nas engrenagens. E já vais com muita sorte porque são históricas
“:OP
Insufláveis?!
Fica cool, fica cool e entretem-te, por agora, com kourai khrysea, que a porca foi laurear a pevide com o musaranho
“;OP
Kollekten sie die milena in my Caverna, avec efxaristo 🙂 Seja como for quero exercer o meu direito à porca, hã? Das musarranhenschweinerin.