A desumanidade da sociedade civil
A solidariedade civil parece não substituir o sentimento religioso.
(…)Esta assistência, voluntária, sem remuneração, recompensa ou visibilidade, é uma das reservas de decência na nossa sociedade muito mais interessada na mercadoria ou na exibição.
Ao estudar estas actividades, dei-me conta de que a maior parte das organizações e dos voluntários tem uma qualquer inspiração religiosa. São grupos e entidades ligados às Igrejas (em Portugal, sobretudo a católica), às ordens, às comunidades religiosas, às paróquias e a outras instituições. Notei algumas de inspiração laica, movidas pela mais simples solidariedade, mas são a minoria. Conheci mesmo voluntários ateus ou agnósticos que se dedicam a esta acção com os grupos religiosos, pois os consideram mais eficientes e mais genuínos. Fica-se com a impressão de que a segurança organizada e o reconhecimento do direito de todos à protecção não substituem, nem de longe, a assistência humana e pessoal ou, mais simplesmente, o “amor ao próximo” em nome de um deus. As vantagens, que são muitas, da cidadania laica e do Estado de protecção social não incluem a humanidade, a decência e a capacidade para resolver caso a caso as situações individuais. A solidariedade civil parece não substituir o sentimento religioso (…)
Que o Estado não seja capaz de humanidade, não é para admirar. Mas que grande parte dos seus técnicos e funcionários também o não seja, já deixa a desejar. As instituições parecem feitas para enquadrar e regulamentar, não para agir individualmente, com a humana generosidade que, muitas vezes, faz tanta ou mais falta do que o alimento ou o abrigo. Mais ainda: nessa enorme constelação de agências de voluntários, são poucas as organizações e poucas as pessoas que se dedicam a estas sacrificadas actividades por mero espírito de solidariedade laica. Para se dedicarem ao exibicionismo, ao dinheiro e à competitividade, os laicos entregam ao Estado as actividades de protecção e de solidariedade. Pode a sociedade civil distinguir-se pelas liberdades e pela igualdade. Mas falhou radicalmente na fraternidade.
[texto completo no Público de hoje]
6 comments on “A desumanidade da sociedade civil”
Comments are closed.
Ora aqui está o linque
É no post dos “direitos de saída”.
C’um caraças, ainda lhes dei trabalho
ahahah 94 comentários e mais outra tanta dezena no outra imbecilidade do sacerdócio para as mulheres.
Ainda bem que os encontrei porque aquele caralho do cbs anda agora para aí a escrever o contrário, dizendo que legalmente a Concordata com a Santa Sé não é coisa da Constituição, mas acordo entre 2 Estados.
Na altura foi para lá fazer número a gozar. Mas levaram bem ahaha e até tive apoio do Tenente Blueberry
“:O)))
Agora fui expulsa e já só lhes posso dar porrada à distância
ahahaha
Leste o artigo? todo?
É que isto não se trata de opinião minha. Trata-se de um estudo de alguém que nem é crente.
isto foi o que ele observou e os dados não são opiniões.
Na Suécia e Dinamarca e resto da Europa do Norte existe uma outra coisa, também ela de origem religiosa. Neste caso protestante- chama-se espírito de commitment.
Quando referi as ONGs podia ter referido partidos. E estava mais a pensar em dinheiros públicos que fimanciam militâncias de palhaçadas.
De qualquer forma, auqi ha´tempos li um artigo a dar para o nojento, feito por uma figura conhecida (eu é que não me lembro quem é, mas no Natureza do Mal garantiram-me que é grande teórica). Ora a sujeita, que é médica e militante ateia pela causa dos chamados “direitos de saída” (mandar desta para melhor os que não se conseguem despachar por si, mas só dentro de condições burocráticas aprovadas pelos sábios) dizia precisamente isto.
Que havia um grande problema laico por faltarem pessoas a “acompanhar” na doença e na morte os pacientes. Claro que, a ideia dela, era outra, por isso, logo a seguir atava a igreja espanhola por ter esta primazia e benefícios fiscais. Pois, sendo assim, mesmo que aparecessem muitos laicos a querer fazer trabalho humano, tinham pela frente o bom trabalho religioso que não ia ajudar nada à causa da eutanásia.
Devia ter guardado essa merda. Quando tiver tempo ainda faço pesquisa lá na Natureza. Como fui expulsa, não posso perguntar qual foi o post
ehehe
Agora o que tu dizes é mais que óbvio que o dinheiro para um Estado Social não nasce da árvore das pacatas. Aquilo que eles têm foi conquistado como muita “selecção brutal” e com pouca gente e excelentes recuros naturais.
Está visto que não é num país pobre, sem tradição de ajuda social que se pode dispensar seja qual for- tanto a do Estado, quanto a privada- isso também já disse a Filomena Mónica.
O que não podes é ter “laicidade” à bruta a tirar terreno ao bom trabalho gratuito (sem despesa para os cidadãos) daquilo que os outros não fazem.
Além do mais, no Norte da Europa o trabalho social religioso é muito maior. Esse mito do Estado laico é fantasia jacobina dos franceses.
O Zazie, tu tens razão mas apenas em parte.Os padres de hoje não são os padres de ontem, e a própria Igreja de hoje, já não é a Igreja de ontem.E as ONGs desperdiçam muito e são ninhos de espiões.
Mas essa caridadizinha não é necessária na Suécia e na Dinamarca, p.ex.Não devemos pergunta-nos porquê? Será que a um estado bem dirigido e controlado não tem aí um papel importante? Não será verdade que o luxo de alguns atira muitos para o lixo?
E a mão invisível não é tão invisível como a mão de Deus?
O que é muito útil e devia ser lido pelos militantes da laicidadezinha quando andam para aí em choradinhos por causa dos “subsídios” ou privilégios à Igreja. Só se esquecem dos que recebem nas ONGs. Na maior parte do caso para fazer merda.
Colaborar como muitos colaboram, sendo ateus ou não.
O Barreto também dá esse exemplo. o que ele mostra, depois do estudo, é que são minoritários e mesmo estes preferem traballhar ou recorrer à ajuda da Igreja.
O artigo é muito bom porque até é feito por um ateu. Mostra aquilo que, só por complexo e má-fé se pode negar: a importância da caridade e trabalho social da Igreja Católica. Não só esta mas principalmente esta.
Mas o que poderá fazer quem não espera um tesouro no céu, e tem ódio à miséria?