Água cosida lhe dareis, com avenca (Ha mister… que está mui fraco)
Eva no era aun casada,
Cuando por Dios fue mandado
Que la muger fosse amada
Ora vos faço a saber
Que ha de comer cousa leve.
Nem a lebre, nem coelho,
Nem porco, nem cação,
Congro, lampreia, tubarão,
Não coma de meu conselho,
Inda que estivesse são.
[Gil Vicente, passgens do Auto dos Físicos]
Cuando por Dios fue mandado
Que la muger fosse amada
Ora vos faço a saber
Que ha de comer cousa leve.
Nem a lebre, nem coelho,
Nem porco, nem cação,
Congro, lampreia, tubarão,
Não coma de meu conselho,
Inda que estivesse são.
Tomae um bom suadouro
De bosta de porco velho:
E com unto de coelho
Esfregue o pousadeiro.
E crede-me de conselho.
E se de quebranto for
Tomade o incenso bello,
E o çumo de marmelo,
E as favas de Guiné,
E untae o cotovelo.
E se for de cadarrão,
Comei caramujos quentes,
Como sahirem, ferventes;
E mexilhões vos coserão
Porque são aqui parentes.
[Gil Vicente, passgens do Auto dos Físicos]
4 comments on “Água cosida lhe dareis, com avenca (Ha mister… que está mui fraco)”
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Mas as fantasias científicas são outra coisa bem mais interessante.
Expliquei mal a questão e pode acontecer que se cruzem com a charlatanice. Mas não são isso. São uma prova que a curiosidade e a criatividade não têm compartimentos estanques. A formulação de hipóteses teóricas trabalha aí, na imaginação, onde também trabalha a criatividade artística. Se assim não fosse nem existia ciência, mas apenas técnica viável em cada momento histórico.
As derivações são muito curiosas porque tanto se podem perder na fraude como na intuição de hipóteses que mais ninguém se lembrou.
Tu tens cá uma genealogia que faz favor…
Pois é, a sátira do Gil Vicente era mesmo essa. O post nem sei bem como saiu. Estava com o Gil Vicente e depois li aquele rapaz indignado pela falta de moral do mandamento bíblico do “crescei e multiplicai-vos” e vieram estes 2 postais de seguida.
Alguma coisa contra as lampreias?
Ainda na linha da (de)genealogia, tenho também um antepassado, um tal Mateus Lampreia, que era familiar do Santo Ofício em Mértola ou Évora, lá para 1600 e qualquer coisa (não tenho a certeza da data).
Se bem que esse talvez não fosse o objectivo do post, lembrei-me das “fantasias científicas” de que falámos no Banqueiro Anarquista. Nesta (e apenas nesta) perspectiva, concordo que ainda existem hoje em dia alguns físicos vicentinos, desta feita convertidos em homeopatas e afins – verdadeiros vendedores de água cozida.
Adorei, adorei mesmo……
oportuno……………