O Não-Deus – I. A Parafísica
(…)Se ao longo de milénios se pesquisaram e entreteceram “provas da existência de Deus” era porque, por um lado, existia a pergunta e, por outro, existindo essa pergunta, existia a dúvida própria do mortal. Ora, nos antípodas disso, a afirmação da não-existência de Deus destes religiosos modernos é peremptória, definitiva, axiomática. Não responde nem duvida em tempo ou modo algum: decreta. Sendo automática, é igualmente uma Fé de burocratas, aliás, mais que Fé: uma fézada. Nitidamente, constata-se que ambiciona o império absoluto duma qualquer Repartição Geral das Crenças donde, após publicação em Diário da República, se obrigará, com força policial, à ilegalização de Deus e, no mínimo, ao internamento compulsivo para desintoxicação dos infractores. Quando, há dias atrás, o Governo Chinês proibiu o Buda de reencarnar, surpreendemos em pleno acto uma eclosão exuberante dessa mesma mentalidade peregrina – epifania mirabolante, essa, que deve ter enchido de volúpia onírica e projecções equiláteras os ateístas cá da paróquia. “O chamado Buda existente reencarnado é ilegal e inválido sem a aprovação governamental”, decreta o Partido Comunista Chinês. Isto não é apenas hilariante: é sinistro. E não é apenas património folclórico dum país despótico ou duma cultura longínqua: entre nós porfia-se e avança-se, a passos visíveis, para uma uniformização forçada e burocrática de idêntico jaez tecnoeficiente; uma universão em que os cidadãos são degradados a meros porta-modas -sendo estas, todas elas (económicas, políticas, científicas, jurídicas e morais), obrigatoriamente compactadas numa única religião laica, monototemística, rigorosa e exclusivista. Creem, os seus apóstolos frenéticos, que através duma hábil manipulação – onde a alquimia do voto enxertada na cabalística mercantileira operará milagres -, a Opinião Pública poderá ser contrafeita em Religião Pública. Já que Deus não morre, ilegalize-se. Já que teima em persistir, proiba-se. A limite, encarcere-se. Por conspiração e contumácia. (…)
A ler, na íntegra, no Dragoscópio
A ler, na íntegra, no Dragoscópio
8 comments on “O Não-Deus – I. A Parafísica”
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O Dragao ‘e como se tivesse link diario.
Enquanto houver gente que tem medo daquilo que os outros pensam… teremos que aturar coisas destas.
Obrigado pelo link.
Tambem eu, Francisco.
Beijoca e boas f’erias
Estava só a comentar um comentário, numa leitura diagonal de quem está de férias. Estou sem internet de momento. Um dia com calma leio isso tudo. E tenho uns artigos no DA sobre esses abusos do governo chinês em relação à nomeação de bispos alheia à ICAR.
Viva Sir Francis. Pois, mas tudo isso são questões acessórias. O post do Dragão fala de outras coisas bem mais engraçadas- como essa nova doutrina que se tornou obrigatória. Isso é que importa. Porque proibir e ilegalizar cultos religiosos, para impor outros ideológicos é o que está a dar.
Vale a pena ir lá ler o texto todo.
«Não é coisa que dependa da vontade de uma pessoa.»
Aí é que está. Há quem pense que sim, e a esses é deixá-los em paz e viva o individualismo.
Beijocas metropolis.
Então e o two-lane blacktop ali mais acima?
Eu adoraria acreditar em Deus, mas não acredito. Não é coisa que dependa da vontade de uma pessoa.